eric laurence
trajetória profissional
Eric Laurence é diretor de cinema desde 2000. O documentário “Uma passagem para Mário” é o seu primeiro longa-metragem. Já dirigiu três curta-metragens de ficção: “O Prisioneiro”, “Entre Paredes” e “Azul”, que juntos conquistaram mais 60 prêmios em festivais de cinema no Brasil e já participaram de diversos festivais internacionais. Dentre os festivais internacionais destaca-se a seleção oficial do filme “O Prisioneiro” para o 33º Festival Internacional do Cinema de Havana, Cuba; e a seleção oficial do filme “Entre Paredes” para o 35º Internacional Film Festival de Rotterdam (HOL), 11º Short Shorts, Tókio (JAP) e o 18º Festival Internacional de Tolouse (FRA). “Entre Paredes” também conquistou 6 prêmios no Festival de Cinema de Gramado, em 2005. Além dessas produções, Eric Laurence também dirigiu o documentário “No Rastro do Camaleão”, realizado através do prêmio do Ministério da Cultura do Brasil.
Filmografia:
- "O Prisioneiro", Ficção, 35mm, 16 min, 2002;
- "Entre Paredes", Ficção, 35mm, 15min, 2005;
- "No Rastro do Camaleão", Documentário, 35mm, 19min, 2007;
- "Azul", Ficção, 35mm, 21min, 2009;
- "Uma passagem para Mário", Documentário, DCP, 77min, 2013.
entrevista com o diretor
eric laurence
1. Como era sua amizade com o Mário? Era coisa de longa data? Vocês tinham projetos comuns? De uma forma ou de outra, o cinema também nos atraiu. Mário era psicólogo e mergulhador, mas estava querendo adentrar no mundo do cinema. Tinha acabado de trabalhar no filme chamado “Jardim Atlântico” e planejava fazer uma série de documentários sobre os naufrágios na costa pernambucana. Inclusive chegou a aprovar um projeto de documentário no Fundo de Cultura de Pernambuco, chamado: “Náufragos e Naufrágios”. Nesse ínterim, falávamos muito sobre cinema e produção audiovisual, e cheguei a colocá-lo como produtor em dois trabalhos que fiz. Conversávamos e sonhávamos juntos, como todos bons amigos.
entrevista com o diretor
eric laurence
2. Aquela cena do naufrágio foi filmada por ele? Em que circunstância? A cena do naufrágio não foi filmada por ele, quem gravou foi um outro amigo nosso chamado Fernando Clark. Ele me mostrou esse vídeo diversas vezes, pois queria incluí-lo seu documentário “Náufragos e Naufrágios”. Lembro de alguns momentos em que “viajávamos” vendo essa cena, impactados pela sua força e beleza. Quando comecei a montar o filme logo me lembrei disso e percebi que essa cena era muito representativa, que poderia simbolizar aquele momento com a dimensão e força que achava necessária. O fascínio de Mário pelos naufrágios sempre me gerou muita curiosidade. O fato de uma pessoa com câncer ser tão interessada em embarcações naufragadas me parecia algo incrivelmente simbólico. Mas, ao mesmo tempo, mergulhar pra Mário era apenas um forma de entrar em outra atmosfera, relaxar e esquecer da vida na superfície.
entrevista com o diretor
eric laurence
3. Por que você o estimulou a filmar família, amigos e tratamento? Já pensava num filme de verdade ou era mais um registro pessoal? Mário ficou filmando tudo sozinho. Ele me falava o que estava fazendo e eu ficava com receio de desmotivá-lo, por isso deixava ele continuar, mas não dava muita importância. Isso foi ótimo, porque não interferi em nada nos seus vídeos autobiográficos. Outra coisa interessante é que eu não me deixava ser filmado. Em várias ocasiões Mário tentou me filmar, mas não permiti. Algumas pessoas comentaram isso comigo. E ironicamente depois eu precisei me despir do receio de me expor para que o filme fosse realizado, isso acabou sendo uma condição imprescindível para o novo dispositivo do filme. Com certeza foi um grande desafio, mas também um grande aprendizado sobre a tolice do ego com relação a própria imagem. Quando eu vi os vídeos de Mário, a sua entrega, exposição e verdade, aquilo me fez encarar a situação de outra forma, tive que ter a coragem de também me expor.
entrevista com o diretor
eric laurence
4. Você pretendia fazer a viagem junto com ele como parte do filme? O objetivo era que a câmera captasse “tudo” que estava sendo vivenciado, que fosse não apenas o meu olho, mas também o meu coração, que a câmera pudesse captar “subjetividade” nas imagens, na abordagem processual. Esses termos podem ser muito complexos, mas a idéia era simplesmente captar imagens que pudessem traduzir subjetivamente o que estava sentindo e conduzir isso para a diegese do espectador - transformar o filme em uma experiência visual e sensorial através do olho da câmera, do meu olho, tornando-se então o olho do próprio espectador.
entrevista com o diretor
eric laurence
5. Quando você decidiu fazer a viagem por/para ele, e como surgiu essa proposta? A viagem surgiu quando eu descobri que tinha algumas milhas sobrando. Foi muito por acaso. Estávamos conversando na minha casa quando me veio a idéia de fazermos uma viagem juntos. Logo pensamos no deserto do atacama e muito rapidamente nos empolgamos e decidimos que partiríamos em um 1 mês. Poucas horas depois, após ele regressar para sua casa, eu liguei pra ele entusiasmado, dizendo que queria fazer um filme sobre ele. Mário me falou que naquele mesmo momento também tinha pensado sobre isso, de que queria deixar algo, de que queria falar sobre a sua vida... foi um momento que considero mágico, desses em que os “acasos” são poeticamente inspiradores. Decidi fazer um filme sobre Mário porque era incrível ver a forma como ele lidava com o câncer e a vida.